A importância do acompanhamento e da reabilitação vocal do paciente
A importância do acompanhamento e da reabilitação vocal do paciente
O papel do fonoaudiólogo no acompanhamento do paciente com câncer de cabeça e pescoço e a importância da reabilitação vocal.
Escrito por: Dr. Arthur Paredes Gatti (CRM-SP: 160731) e Dr. Giovanni Simões de Medeiros (CRM-SP: 211331).
É fundamental aos pacientes em seguimento pela equipe de cirurgia de cabeça e pescoço um atendimento conjunto e ordenado multidisciplinar. A fonoaudiologia tem papel fundamental na terapia e seguimento destes pacientes no que tange a reabilitação e qualidade de vida.1
A atuação fonoaudiológica inicia-se desde o período pré-operatório, com o auxílio do entendimento das alterações que podem surgir durante o tratamento, ou seja, dificuldades com a fala, mudança da voz, deglutição e mímica facial. Com isso, os cuidados pósoperatórios são introduzidos ao paciente de forma personalizada, tornando-o ciente do seu plano terapêutico, no intuito de melhorar sua aderência e participação.1,2
O acompanhamento fonoaudiológico diminui as comorbidades pós-operatórias, promovendo qualidade de vida e reintrodução social, fator este de extremo impacto tendo em vista as diversas comorbidades preexistentes e possíveis sequelas de seu tratamento. O controle dos riscos de exposição à broncoaspiração por meio do estudo da deglutição e tratamento da disfagia promove não somente efeito positivo na qualidade de vida mas também na sua preservação, uma vez que essa é uma das principais complicações que levam ao adoecimento e óbito precoce do indivíduo em tratamento.3
Em relação ao cuidado da voz, a equipe multiprofissional tem papel fundamental na reabilitação da comunicação pós-cirúrgica. Qualquer alteração no trato vocal repercute na fala do paciente, comprometendo de alguma forma a comunicação, a depender da extensão da área ressecada pelo cirurgião ou impactada pela radioterapia. Com isso é necessário o trabalho contínuo e persistente na articulação da voz do paciente, com o intuito de gerar o som mais inteligível possível, sendo ele através da mobilização das pregas vocais, fonação esofágica ou aparelhos eletrônicos de vocalização.4
Dentre esse arsenal terapêutico, temos o exercício e o treinamento para fonação esofágica, que são viáveis para pacientes colaborativos e com arcabouço faríngeo suficiente para sua execução. A laringe eletrônica é uma opção de muitos pacientes laringectomizados, porém, com estigma do timbre metálico, apesar de alguns modelos mais novos apresentarem semelhança com a voz prévia do paciente. A prótese fonatória também é uma alternativa e seu implante é realizado de forma cirúrgica no momento do tratamento oncológico ou após a terapia adjuvante. Nessa modalidade, são necessários atenção e cuidado para manter a próstese higienizada, devido ao contato entre os tratos digestivo e respiratório, e é preciso que sua troca seja feita semestralmente, em ambiente ambulatorial.4,5
Figura 1: Esquema de laringe eletrônica em paciente laringectomizado. O paciente articula o som que é captado pelo aparelho e reproduzido com timbre eletrônico. 6
Figura 2: Esquema de prótese fonatória em paciente laringectomizado. O paciente articula a voz esofágica, porém, com mais qualidade, pois projeta o ar dos pulmões e não do estômago.5
- Angelis EC. A atuação da fonoaudiologia no câncer de cabeça e pescoço. São Paulo: Lovise. 1 ed., 2000.
- McPhail MJ, Janus JR, Lott DG. Advances in regenerative medicine for otolaryngology/head and neck surgery. BMJ. 2020;369:m718.
- Sasegbon A, Hamdy S. The anatomy and physiology of normal and abnormal swallowing in oropharyngeal dysphagia. Neurogastroenterol Motil. 2017;29(11).
- Rossi VC, de Moraes JL, Molento CF. Speech therapy in head and neck cancer. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87(5):495-6.
- Atos Medical AB. Provox ® Voice Prostheses Literature Review. 2019. Disponível em: https://d1a743corqz1mw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2019/09/literature-review-provox-voice-prostheses-2019.pdf. Acessado em 20 de setembro de 2022.
- Davatz GC. Reabilitação vocal e qualidade de vida em laringectomizados totais. 2011. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/82/82131/tde-09052012-103409/pt-br.php. Acessado em 20 de setembro de 2022.