Awareness HPV – Vacina 9-valente contra o HPV

Vacina 9-valente contra o HPV (9vHPV)

Profa. Dra. Denise Gasparetti Drumond
CRM-MG 20.643
Professora Associada de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); Chefe do Setor de Patologia Vulvar do Hospital Universitário (HU-UFJF); Membro do Conselho Consultivo do Capítulo Mineiro de Patologia do Trato Inferior e Colposcopia

Profa. Dra. Yara Lucia Furtado de Melo
CRM-RJ 52 44912-6
Professora Adjunta de Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio); Secretária geral da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior – Capítulo Rio de Janeiro e Membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Patologia do Trato Genital Inferior (PTGI) da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)

O papilomavírus humano (HPV) é a infecção viral mais comum do trato anogenital e causa uma variedade de lesões em homens e mulheres, incluindo lesões precursoras que podem evoluir para câncer. É responsável por 5% dos cânceres do corpo humano, incluindo quase 100% dos casos de câncer do colo uterino e, em uma proporção substancial, de outros tipos como vulvar, vaginal, peniano, anal e além desses do trato anogenital, também de orofaringe. Com isso representando mais de 600 mil novos casos de câncer no mundo.1,2

Existem mais de 200 tipos de HPV, que podem ser subdivididos em categorias cutâneas ou mucosas com base em seu tropismo tecidual. Mais de 40 genótipos de HPV de mucosa podem infectar o trato genital. Os genótipos dividem-se em baixo e alto risco oncogênico. Os vírus de alto risco oncogênico são: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82.3-5

A maioria das infecções por HPV é assintomática e se resolve espontaneamente, sendo o vírus eliminado por um processo de clearance, porém a infecção pode se tornar persistente e resultar em doença.4 Nas mulheres, a infecção persistente com tipos oncogênicos de HPV pode levar à lesão intraepitelial cervical de alto grau, podendo evoluir para câncer cervical. Ademais, tanto em homens quanto em mulheres, a infecção por HPV está associada a tumores de cabeça, pescoço, orofaringe e área anogenital, bem como verrugas anogenitais e papilomatose respiratória recorrente em recém-nascidos.4,6-8

O câncer cervical destacamos aqui, visto que, em todo o mundo, é o quarto câncer mais comum entre as mulheres, com aproximadamente 570 mil casos de carcinoma invasivo diagnosticados e 311 mil mortes em 2018,9 e a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) no Brasil para o triênio 2023-2025 é de 17.010 novos casos, sendo considerado o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres.10

A identificação do HPV como a causa primária do câncer anogenital criou oportunidade de prevenção primária por meio da vacinação. A vacina 9-valente contra o HPV (9vHPV) foi desenvolvida para prevenir infecções e doenças relacionadas aos nove tipos de HPV (HPV6/11/16/18/31/33/45/52/58), expandindo a cobertura da vacina quadrivalente. Essa prevenção, baseada em estudos epidemiológico, é de aproximadamente 90% do câncer de colo uterino, 70% a 85% de lesões precursoras do colo uterino (as chamadas lesões intraepiteliais de alto grau), outros tipos de cânceres HPV-induzidos (vulvar, vaginal e anal) e verrugas genitais em todo o mundo.7,10-12 Estudos desenvolvidos na América Latina sobre eficácia, imunogenicidade e segurança da 9Vhpv mostraram aumento de proteção contra os tipos virais contidos na vacina na população de 9 a 15 anos de idade e não inferiormente na população de 16-26 anos de idade, aumentando a necessidade de oferta dessa vacina na população referida.2

A vacinação contra o HPV é um pilar fundamental da Estratégia Global da OMS para acelerar a eliminação do câncer cervical, que é um problema de saúde pública.13 Estima-se que a implementação dessa estratégia possa prevenir 60 milhões de casos de câncer cervical e 45 milhões de mortes nos próximos 100 anos.8

Ressaltamos a relevância da revisão sistemática e metanálise de Kechagias et al., esclarecendo que a vacinação contra o HPV pode reduzir o risco de recorrência de neoplasia intraepitelial cervical (NIC), principalmente quando relacionada ao HPV16 ou ao HPV18, em mulheres tratadas com excisão local.14 Outras revisões poderão ser feitas futuramente relacionando a 9vHPV com diminuição das recidivas de outros tipos virais após tratamento excisional.15

A seguir são ilustradas condições causadas pelo vírus HPV:

Mulher com 35 anos de idade com citologia de lesão intraepitelial de alto
grau (HSIL) e colposcopia adequada, junção escamocolunar (JEC) não visível, zona
de transformação anormal tipo 3, com mosaico grosseiro e orifícios glandulares espessados, em concordância com resultado citológico.

Arquivo pessoal da autora Dra. Yara Lucia Furtado de Melo.

Figura 1. Mulher com 35 anos de idade com citologia de lesão intraepitelial de alto grau (HSIL) e colposcopia adequada, junção escamocolunar (JEC) não visível, zona de transformação anormal tipo 3, com mosaico grosseiro e orifícios glandulares espessados, em concordância com resultado citológico.

Mulher de 40 anos de idade com sangramento contínuo e citologia de HSIL. Ao exame presença de lesão tumoral, infiltrativa, friável em colo uterino.

Arquivo pessoal da autora Dra. Yara Lucia Furtado de Melo.

Figura 2. Mulher de 40 anos de idade com sangramento contínuo e citologia de HSIL. Ao exame presença de lesão tumoral, infiltrativa, friável em colo uterino.

Gestante com 30 anos de idade e com 15 semanas de gestação apresentando volumoso condiloma que envolve fúrcula, região perineal e perianal.

Arquivo pessoal da autora Dra. Yara Lucia Furtado de Melo.

Figura 3. Gestante com 30 anos de idade e com 15 semanas de gestação apresentando volumoso condiloma que envolve fúrcula, região perineal e perianal.

Mulher com 45 anos de idade, HIV positivo. Placas de coloração branca e cinza ocupando face interna de pequenos lábios e fúrcula vaginal. Histologia: lesão intraepitelial escamosa de alto grau.

Arquivo pessoal da autora Dra. Denise Gasparetti Drumond.

Figura 4. Mulher com 45 anos de idade, HIV positivo. Placas de coloração branca e cinza ocupando face interna de pequenos lábios e fúrcula vaginal. Histologia: lesão intraepitelial escamosa de alto grau.

Mulher com 59 anos de idade, diabética, com condiloma acuminado vulvar. Múltiplas lesões verrugosas, isoladas e agrupadas ocupando comissura vulvar anterior, parte do monte de púbis, prepúcio do clitóris e pequeno lábio esquerdo. Mancha hiperpigmentada em fúrcula vaginal e parte de grandes lábios com histologia de lesão intraepitelial escamosa de alto grau.

Arquivo pessoal da autora Dra. Denise Gasparetti Drumond.

Figura 5. Mulher com 59 anos de idade, diabética, com condiloma acuminado vulvar. Múltiplas lesões verrugosas, isoladas e agrupadas ocupando comissura vulvar anterior, parte do monte de púbis, prepúcio do clitóris e pequeno lábio esquerdo. Mancha hiperpigmentada em fúrcula vaginal e parte de grandes lábios com histologia de lesão intraepitelial escamosa de alto grau.

Arquivo pessoal da autora Dra. Denise Gasparetti Drumond.

Figura 6. Mulher com 36 anos de idade, com epitélio acetobranco tênue em 1/3 superior de vagina (A). Área iodo-negativa em 1/3 superior de vagina (B). Histologia: lesão intraepitelial escamosa de baixo grau vaginal.

Arquivo pessoal da autora Dra. Denise Gasparetti Drumond.

Figura 7. Mulher com 56 anos de idade, com carcinoma em vulva acometendo grande e pequeno lábio direito. Pápulas coalescentes em pequeno e grande lábio esquerdo cuja etiologia foi lesão intraepitelial escamosa de alto grau.

Arquivo pessoal da autora Dra. Denise Gasparetti Drumond.

Figura 8. Mulher com 33 anos de idade, com lesão formada por placa enegrecida em sulco interglúteo. Histologia: lesão intraepitelial escamosa de alto grau.

Referências

  1. Guevara A, Cabello R, Woelber L, Moreira Jr ED, Joura E, Reich O, et al. Antibody persistence and evidence of immune memory at 5 years. Vaccine. 2017;35(37):5050-57.
  2. Ruiz-Sternberg AM, Moreira Jr ED, Restrepo JA, Lazcano-Ponce E, Cabello R, Silva A, et al. Efficacy, immunogenicity, and safety of a 9-valent human papillomavirus Vaccine in Latin American girls, boys, and young women following administration of the 9-valent HPV vaccine. Papillomavirus Res. 2018;5:63-74.
  3. Choi YJ, Park JS. Clinical significance of human papillomavirus genotyping. J Gynecol Oncol. 2016;27(2):e21.
  4. Doorbar J. Molecular biology of human papillomavirus infection and cervical cancer. Clin Sci (Lond). 2006;110(5):525-41.
  5. Muñoz N, Bosch FX, de Sanjosé S, Herrero R, Castellsagué X, Shah KV, et al. Epidemiologic classification of human papillomavirus types associated with cervical cancer. N Engl J Med. 2003;348(6):518-27.
  6. Bosch FX, Lorincz A, Muñoz N, Meijer CJ, Shah KV. The causal relation between human papilomavírus and cervical cancer. J Clin Pathol. 2002;55(4):244-65.
  7. de Sanjose S, Quint WG, Alemany L, Geraets DT, Klaustermeier JE, Lloveras B, et al. Human papilomavírus genotype attribution in invasive cervical cancer: a retrospective cross-sectional worldwide study. Lancet Oncol. 2010;11(11):1048-56.
  8. World Health Organization (WHO). Human papillomavirus vaccines: WHO position paper. MMWR. 2022(97):6450672.
  9. World Health Organization (WHO). Cervical Cancer. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/cervical-cancer#tab=tab_1. Acesso em: jul. 2023.
  10. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2023. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//estimativa-2023.pdf. Acesso em: jul. 2023.
  11. Serrano B, De Sanjose S, Tous S, Quiros B, Munoz N, Bosch X, et al. Human papillomavirus genotype attribution for HPVs 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 and 58 in female anogenital lesions. Eur J Cancer. 2015;51(13):1732-41.
  12. Joura EA, Ault KA, Bosch FX, Brown D, Cuzick J, Ferris D, et al. Attribution of 12 high-risk human papilomavírus genotypes to infection and cervical disease. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2014;23:1997-2008.
  13. World Health Organization (WHO). Global strategy to accelerate the elimination of cervical cancer as public health problema. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240014107. Acesso em: jul. 2023.
  14. Kechagias KS, Kalliala I, Bowden SJ, Athanasiou A, Paraskevaidi M, Paraskevaidis E, et al. Role of human papillomavirus (HPV) vaccination on HPV infection and recurrence of HPV related disease after local surgical treatment: systematic review and meta-analysis. BMJ. 2022;378:e070135.
  15. Eriksen DO, Jensen PT, Schroll JB, Hammer A. Human papillomavirus vaccination in women undergoing excisional treatment for cervical intraepithelial neoplasia and subsequent risk of recurrence: A systematic review and meta-analysis. Acta Obstet Gynecol Scand. 2022;101(6):597-607.
  16. Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Nota técnica 15/03/2023. Atualização das vacinas HPV em uso no Brasil: introdução da nonavalente (HPV9). Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nt-sbim-vacina-hpv9-230505.pdf. Acesso em: jul. 2023.

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