Avaliando o uso de IO no tratamento de CRC com MSI-H ou dMMR do DNA

Dr. Pedro Luiz Serrano Uson Junior

Dr. Pedro Luiz Serrano Uson Junior
CRM-SP 148.243

Centro de Medicina de Precisão, Hospital Israelita Albert Einstein; HCOR Oncologia

PERFIL DE EFICÁCIA DO PEMBROLIZUMABE EM PACIENTES COM TUMORES NÃO COLORRETAIS E INSTABILIDADE DE MICROSSATÉLITES/DEFICIÊNCIA DE ENZIMAS DE REPARO DO DNA – RESULTADOS DO ESTUDO DE FASE II KEYNOTE-158

As células normais, com sistema de reparo do DNA funcionante, apresentam a capacidade de detectar, reconhecer e reparar os múltiplos erros que ocorrem espontaneamente durante os processos celulares.1 Acredita-se que ao redor de 2%-4% dos tumores malignos podem apresentar deficiência nas enzimas de reparo do DNA (dMMR).2 De maneira geral, essa alteração genômica pode se dar em função de síndromes hereditárias genéticas, como a síndrome de Lynch, ou, como é mais comum, se manifestar em casos esporádicos.2 A prevalência dessa alteração molecular varia muito entre os tumores sólidos, e a identificação ganhou muita força nos últimos anos devido ao descobrimento e uso dos inibidores de checkpoint imunes.2 O tumor que apresenta dMMR é denominado portador de alta instabilidade de microssatélites (MSI-H), esses tumores apresentam uma sequência molecular única, apresentando até centenas de vezes mais mutações que outros tumores que não portam essa variante.2 Os microssatélites são pequenas cadeias de DNA em repetição, resultantes de erros eventuais (deleções, inserções…) que se acumulam e denotam esse perfil nos tumores.3 O diagnóstico de MSI-H pode ser confirmado por imuno-histoquímica (IHQ), técnicas de reação em cadeia da polimerase (PCR) ou sequenciamento de nova geração (NGS).2 De maneira geral, esses tumores MSI-H apresentam microscopicamente alta infiltração linfocitária, associado a alta exposição de neoantígenos e proteínas relacionadas ao controle da imunidade, como a proteína da morte celular programada 1 (PD-1) e antígeno 4 associado ao linfócito T citotóxico (CTLA-4).2 Devido a esses fatores, foi hipotetizado que majoritariamente os tumores portadores de dMMR seriam altamente responsivos a tratamento com inibidores de checkpoint imunes como o pembrolizumabe.2 Nesse contexto, o ensaio clínico Keynote-158 buscou avaliar a eficácia do anticorpo monoclonal anti-PD-1 pembrolizumabe em pacientes com tumores portadores de MSI-H (Tabela 1).2

Tabela 1. Dados gerais do estudo Keynote-158

EstudoDesenhoN.º pacientesTipos de tumores incluídosTempo médio de follow-upTaxa de respostaSobrevida livre de progressãoSobrevida global
Keynote-1582Fase II2332713,4 meses34,3% (IC 95%, 28,3-40,8)4,1 meses (IC 95%, 2,4-4,9)23,5 meses (IC 95%, 13,5- não atingido)

IC, intervalo de confiança.
Elaborada a partir de Marabelle et al., 2020.2

Foi um estudo de fase II multicêntrico, não randomizado e aberto, que incluiu múltiplos tumores primários incluindo endometrial, gástrico, do intestino delgado, biliar, entre outros.2 Todos os pacientes tinham mais de 18 anos de idade e já haviam sido expostos a ao menos um regime de tratamento sistêmico ativo para a doença em questão, além de status de boa performance e adequada função renal e hepática.2 Como critérios de exclusão notam-se histórico de doença autoimune ativa nos últimos dois anos, vírus da imunodeficiência humana (HIV) e tratamento prévio com inibidores de checkpoint imunes, além de outros relacionados a tratamentos em 15-30 dias de anticorpos monoclonais, inibidores de tirosina quinase, quimioterápicos ou vacinas.2 O estudo incluía tratamento com pembrolizumabe 200 mg a cada 21 dias por 35 ciclos, aproximadamente dois anos.2 O status MSI-H foi determinado pela perda de expressão de proteínas por IHQ de quatro enzimas MMR (MLH1/MSH2/MSH6/PMS2) ou análise dos locos de microssatélites utilizando PCR. Os tumores eram classificados como MSI-H/dMMR quando a expressão detectada por IHQ de pelo menos uma das quatro MMR proteínas estavam ausentes, ou quando pelo menos dois locos alélicos entre os cinco marcadores analisados foram identificados por PCR.2 Entre fevereiro de 2016 e março de 2018, um total de 233 pacientes foram incluídos, de 55 centros em 18 países.2 A idade média dos pacientes foi de 60 anos, e aproximadamente 58,8% eram do sexo feminino. Um total de 27 tumores foram representados, e entre estes os tumores de endométrio, intestino delgado, colangiocarcinoma e gástrico estavam entre os mais representados.2 Estes tumores são os tumores que vamos abordar mais especificamente os resultados principalmente devido a aprovação de indicação no Brasil.4 Do total de 49 pacientes com tumores endometriais, oito pacientes tiveram resposta completa, com uma taxa de resposta objetiva de 57,1% (42,2-71,2), a sobrevida livre de progressão mediana foi de 25,7 meses e a sobrevida global e tempo de duração de resposta mediano não foram atingidos.2 Do total de 24 pacientes com tumores gástricos, quatro pacientes tiveram resposta completa, com uma taxa de resposta objetiva de 45,8% (25,6-67,2), a sobrevida livre de progressão mediana foi de 11 meses e a sobrevida global e tempo de duração de resposta mediano não foram atingidos.2 Do total de 22 pacientes com colangiocarcinoma, dois pacientes tiveram resposta completa, com uma taxa de resposta objetiva de 40,9% (20,7-63,6), a sobrevida livre de progressão mediana foi de 4,2 meses, sobrevida global mediana foi de 24,3 meses, e o tempo de duração de resposta mediano não foi atingido.2 Do total de 19 pacientes com tumores de intestino delgado, três pacientes tiveram resposta completa, com uma taxa de resposta objetiva de 42,1% (20,3-66,5), a sobrevida livre de progressão mediana foi de 9,2 meses e a sobrevida global e tempo de duração de resposta media no não foram atingidos (Tabela 2).2

Tabela 2. Atividade antitumoral para tipos de tumor com maior adesão

Tipos de tumorN.oRCRPTRO, % (IC 95%)SLP mediana, meses (IC 95%)SG mediana, meses (IC 95%)DOR mediana,
meses (intervalo)
Endometrial4982057,1
(42,2 a 71,2)
25,7
(4,9 a NA)
NA
(27,2 a NA)
NA
(2,9 a 27,0+)
Gástrico244745,8
(25,6 a 67,2)
11,0
(2,1 a NA)
NA
(7,2 a NA)
NA
(6,3 a 28,4+)
Intestino
delgado
193542,1
(20,3 a 66,5)
9,2
(2,3 a NA)
NA
(10,6 a NA)
NA
(4,3+ a 31,3+)

DOR, duração da resposta; NA, não alcançado; SG, sobrevida global; SLP, sobrevida livre de progressão; RC, resposta completa; RP, resposta parcial; TRO, taxa de resposta objetiva.
Adaptada de Marabelle et al., 2020.2

Em relação a eventos adversos não houve diferenças de segurança quando comparado a estudos prévios com pembrolizumabe, ao redor de 14,6%-22% dos pacientes incluídos apresentaram toxicidade grau 3 ou maior relacionado ao tratamento.2,5 Este estudo demonstrou o benefício clínico duradouro do tratamento com pembrolizumabe em doentes com câncer não colorretal metastático ou irressecável MSI-H/dMMR que sofreram progressão em/ou foram intolerantes ao tratamento precoce. Além disso, os resultados observados neste estudo suportam a aprovação do pembrolizumabe intravenoso em 200 mg a cada três semanas para o tratamento desses pacientes.2,5

Referências

  1. Alhmoud JF, Woolley JF, Al Moustafa AE, Malki MI. DNA Damage/Repair Management in Cancers. Cancers (Basel). 2020;12(4):1050.
  2. Marabelle A, Le DT, Ascierto PA, Di Giacomo AM, De Jesus-Acosta A, Delord JP, et al. Efficacy of Pembrolizumab in Patients With Noncolorectal High Microsatellite Instability/Mismatch Repair-Deficient Cancer: Results From the Phase II KEYNOTE-158 Study. J Clin Oncol. 2020;38(1):1-10.
  3. Boland CR, Thibodeau SN, Hamilton SR, Sidransky D, Eshleman JR, Burt RW, et al. A National Cancer Institute Workshop on Microsatellite Instability for cancer detection and familial predisposition: development of international criteria for the determination of microsatellite instability in colorectal cancer. Cancer Res. 1998;58(22):5248-57.
  4. Bula vigente de Keytruda.
  5. André T, Shiu KK, Kim TW, Jensen BV, Jensen LH, Punt C, et al. Pembrolizumab in Microsatellite-Instability-High Advanced Colorectal Cancer. N Eng J Med. 2020;383(23):2207-18.
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